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UNABOMBER, A BANDA.

Alguém já ouviu falar de Theodore Kaczynski? Esse ex-professor universitário e matemático americano foi preso em 1996 e recebeu pena perpétua, acusado de ser o enigmático Unabomber, denominação que lhe foi dada pelo FBI por enviar cartas-bomba, desde o ano de 1978, para Universidades e Aeroportos - símbolos do desenvolvimento técnico-científico-informacional e da globalização. O nome, com sua significação sociológica e sua sonoridade, foi utilizado pelos músicos da região metropolitana do Rio, na Baixada Fluminense, para rebatizar a banda de rock formada nos idos da década de 90, deixando claro que a inspiração não contemplava os atos terroristas do ex-professor, até porque foi escolhido antes de sua identificação e prisão. Na verdade, parte do teor do texto “A Sociedade Industrial e seu futuro”, manifesto que foi publicado pelo "The Washington Post" em parceria com o NYT, em 19 de setembro de 1995, é que serviu de gancho para a adoção do nome pela banda.

 
O Unabomber conta com o guitarrista Sandro Luz, o vocalista André Luz, o baixista Alan Vieira e o baterista PC Stocco, este último com passagens pelo Jason e Mandril. Em 1994, PC, André e Sandro foram os responsáveis pelo Canil Pub. As bandas mais significativas do chamado underground carioca dos anos 1990 e de outros cantos do Brasil e até da Argentina tocaram por lá, como Planet Hemp, Second Come, Piu Piu e sua Banda, Gangrena Gasosa e muitas outras. Em 1996, eles gravam sua primeira demotape, homônima. O segundo tape, denominado “R”, foi lançado em janeiro de 1998, com produção do então iniciante Rafael Ramos (hoje um nome de peso da indústria da música no Brasil, sócio da gravadora Deck e produtor de nomes como Dead Fish, Pitty e Titãs). Longe de passarem incólumes, ambas as demotapes foram resenhadas por todas as principais revistas, jornais e zines musicais da época e que destacavam, principalmente, a originalidade do som dos caras. Com a repercussão dos dois tapes, se apresentaram em todo o Grande Rio, São Paulo e cidades do ABC paulista, Grande BH, Ouro Preto e outras paragens. Participaram, também, das três edições do Festival Skol Rock, entre os anos de 1996 e 1998, ocasião em que abriram shows de bandas como Titãs, Raimundos, Charlie Brown Jr., Paralamas do Sucesso e Lemonheads (USA), em casas como Imperator, Metropolitan e Mistura Fina, no Rio, e Ginásio Álvares Cabral, em Vitória/ES. Na mesma época, participaram dos programas Ultrassom e Jornal MTV, além do Caderno Teen, da TVE. Na MTV, receberam críticas elogiosas do Chorão (Charlie Brown) e do “reverendo” Fábio Massari. Tiveram, ainda, as faixas “Sociedade Aberta e seus Inimigos” e “Só Hoje” executadas em emissoras como a Rádio Cidade FM (Rio) e Brasil 2000 FM (São Paulo). Já no ano de 1999, se apresentaram no Festival Lollapalooza Playcenter, tendo sido selecionados para gravar uma faixa da coletânea oficial do festival, juntamente com diversas bandas paulistas, como o Nitrominds. No ano seguinte, gravam a faixa “Ora et Labora”, especialmente para a coletânea “Apocalipse 2000” (Tamborete, 2001), que reuniu bandas como Inocentes e CPM22. Pouco tempo depois, a banda encerrou as atividades.

 

O dia 1º de maio de 2017 marca o retorno da banda, com o lançamento do EP "Massas & Manobras S/A". Formado por releituras de algumas composições lançadas nas duas demos dos anos 90, o EP contou com produção musical do “mago” Celo Oliveira, além de projeto visual do renomado fotógrafo Marcos Hermes. Celo viria a se tornar o produtor oficial e uma espécie de quinto Unabomber, nessa nova fase. E o que era para ser uma reunião para comemorar os 20 anos da gravação de “R” se transformou, de fato, numa retomada das composições com o desejo de dizer algo mais, e na vontade de voltar aos palcos para fazer mais barulho. Foi assim que, em meio ao xadrez sociopolítico contemporâneo, a banda compôs e gravou "Silêncio", primeira inédita após o retorno, lançada como single no mesmo ano. Em seguida veio “Pesadelo” (2018), releitura da composição de Paulo César Pinheiro e Maurício Tapajós, gravada originalmente pelo MPB4, em 1972 (ainda sob o peso da ditadura militar). Em janeiro de 2019, lançam o EP “O Mal da Máquina Morre” que traz o hit “Guanabara”, inspirada na situação caótica do estado do Rio de Janeiro, e eleita como uma das melhores músicas de 2019, no programa Heavy Pero No Mucho, da Rádio 89 FM São Paulo. O EP, cujo título foi retirado de um trecho da música “A Celebração da Peleja entre o Molotov e a Máquina", inaugura a primeira parceria fora da banda com o artista baiano Ayam Ubräis Barco, autor da letra de poesia política, onde o Molotov e a Máquina são metáforas em que um é a consciência e o outro o sistema. O ano de 2019 marca também o retorno da banda aos palcos de diversas cidades paulistas, com destaque para uma série de shows junto ao Coletivo Bloco Almada e uma grande apresentação dividindo o palco com os capixabas do Dead Fish e outras atrações, em Diadema.

 
Com a pandemia, em 2020, a banda deu um tempo dos palcos, mas seguiu lançando singles nos streamings de música. Em abril, mais uma parceria, desta vez com a rapper paulistana Flor MC no single “João 8:32”. A letra, cuja segunda parte ficou a cargo da caneta e voz da MC, faz uma reflexão sobre o fenômeno das fake News e sua influência no atual cenário político do Brasil. Musicalmente, a faixa remete à trilha de "Judgment Night" (USA, 1993). O single seguinte é a segunda versão gravada pelo grupo. A escolha de “Canoa, Canoa”, lançada originalmente por Milton Nascimento no álbum Clube da Esquina 2, veio da vontade de fazer um tributo à música mineira, aos povos indígenas e ao meio ambiente. Estes dois últimos, alvos de ataques sistemáticos por parte do atual governo brasileiro. Destaque para a linda capa com gravura do artista plástico Jhon Bermond, que também cedeu uma bela sequência de desenhos que serviram de base para o vídeo, sempre com a caprichada produção da videomaker Gabby Vessoni.  O terceiro single do ano é “Maciota”, que abre espaço no repertório para uma abordagem sonora mais tranquila e com tema de relacionamento interpessoal. Entre um single e outro, a banda ainda encontrou espaço para participar da segunda edição da Coletânea AVA, um interessante projeto que reúne artistas autorais de todo o país e no qual um grava a música do outro. O primeiro lançamento do ano de 2021 é o single “SpaceShit”, retomando a discussão sobre a revolução técnico-científico-informacional e a globalização e relacionando a isso o problema do lixo espacial que orbita sobre as nossas cabeças.  


Sob uma base sonora pesada de rock alternativo e elementos implícitos do punk, post-punk e metal industrial, com letras que cutucam o senso crítico da sociedade, o Unabomber segue nas ruas abertas da América Latina.

* Por BERNARDO ARAÚJO (SEGUNDO CADERNO/O GLOBO)

INTEGRANTES

ANDRÉ LUZ

Vocal

PAULO STOCCO

ALAN VIEIRA

Baixo

LINHA DO TEMPO

Lançamento da primeira demo-tape do Unabomber.  Gravada em abril daquele mesmo ano no Overdrive Studio, no bairro carioca de Copacabana, a demo-tape homônima foi produzida pela própria banda. A fita trazia cinco músicas, dentre as quais “Sociedade Aberta e Seus Inimigos”, faixa veiculada na Rádio Cidade FM (Rio) e muito executada em diversas rádios comunitárias, na época. Com essa demo, obtiveram boas críticas em revistas, jornais e zines de todo o Brasil e da Argentina.

Participação da banda na primeira edição do Festival Skol Rock, em um show no Ginásio Álvaro Cabral, Vitória/ES. Na ocasião, o quinteto se apresentou para um público estimado de mais de quatro mil pessoas, abrindo para os Titãs. 

O Unabomber é selecionado para a segunda edição do Skol Rock. Desta vez, a apresentação foi no palco do Imperator, casa tradicional do Méier, no subúrbio carioca. Fechando a noite, a banda estadunidense Lemonheads. Nesta edição, o grupo ficou em segundo lugar na etapa Rio, com a música “Do Útero ao Túmulo”, o que rendeu a participação em diversos eventos. Após entrevista para a MTV Brasil, a banda foi saudada pelo crítico musical e VJ Fábio “Reverendo” Massari, que pediu uma “fitinha-demo” pros caras

Logo em janeiro é lançada a segunda demo-tape, intitulada simplesmente “R”. Gravada e mixada no Estúdio Impressão Digital, no bairro da Barra da Tijuca, contou com produção do então iniciante Rafael Ramos (hoje um nome de peso da indústria da música no Brasil, sócio da gravadora Deck e produtor de nomes como Dead Fish, Pitty e Titãs). Assim como a demo de estreia, “R” foi bem recebida pela crítica underground e em revistas especializadas do país, mais uma vez destacando a originalidade do som da banda. A faixa “Só Hoje” chegou a ser veiculada em programas de rádios rock de São Paulo, como Brasil 2000 e 89 FM. A banda seguiu se apresentando ao vivo em todo o Grande Rio, São Paulo, cidades do ABC paulista, Grande BH, Ouro Preto/MG e outras paragens.

Ano que marca a retomada do Unabomber, com a regravação de seis músicas do repertório da primeira fase da banda. Gravado, mixado, masterizado e produzido por Celo Oliveira, o EP Massas & Manobras S/A foi lançado em meio digital. O renomado fotógrafo Marcos Hermes assumiu a direção artística do projeto.
Na sequência é lançado "Silêncio", primeiro single inédito após o retorno. Sempre com a produção do mago Celo, que viria a se tornar o produtor oficial e uma espécie de quinto Unabomber, nessa nova fase.

Voltam a se reunir para os primeiros ensaios de um ainda embrionário projeto que visava, inicialmente, regravar algumas músicas das duas demos lançadas pela banda nos anos 1990. O objetivo, nessa fase, era o de registrar de forma mais fiel o peso e a intensidade que a banda atingiu antes da dissolução, acrescentando a experiência e maturidade acumulada nestes anos, e usando as novas tecnologias e equipamentos ao alcance, na atualidade.

Convidados a participar da Coletânea Apocalipse 2000 (Tamborete, 2001), que reuniu bandas como Inocentes e CPM22, gravam a faixa “Ora et Labora”, com produção de John Cássio e coprodução de Rico Marcin. No ano seguinte, a banda se desfaz e só o batera PC segue tocando, com passagens pelo Jason e Mandril, além do projeto Perdidos na Selva.

Realizam duas apresentações no Festival Lollapalooza Playcenter, tendo sido selecionados para gravar uma faixa da coletânea oficial do festival juntamente com diversas bandas paulistas, como o Nitrominds. Gravam “Só Hoje”, no Be Bop Studio (São Paulo).

Marcam presença na terceira e última edição do Festival Skol Rock. Naquele ano, subiram ao palco da maior casa de show da época no Rio de Janeiro, o Metropolitan. Fechando o evento, nada menos que Charlie Brown Jr., Paralamas do Sucesso e Raimundos. A faixa “Lado B” colocou logo de cara as quase oito mil pessoas presentes no evento para pular, logo depois da execução de uma cover pogante de “Killing the Name”, do RATM.

Unabomber na MTV – a banda participa do Programa UltraSom, apresentando “Câmara de Hoffman” e uma versão de “Mosca na Sopa”. Chorão era o convidado do programa e rasgou elogios, chegando a dizer que ficou “sem palavras”, destacando os arranjos, o peso, a contundência e originalidade, tanto na música autoral quanto na versão apresentada. Depois do programa, o vocalista do Charlie Brown Jr. convidou o pessoal da banda pra uns chopes na padaria da esquina.

Gravam a primeira versão da carreira. A música escolhida foi "Pesadelo", composição de Paulo Cesar Pinheiro e Maurício Tapajós, originalmente lançada pelo MPB4, em 1972, ainda sob o peso da ditadura militar. A letra é incrível e dramaticamente contemporânea, transitando por velhas preocupações ressurgidas e evocando a necessidade de novas perspectivas, em meio a maior polarização política, social e ideológica jamais vista no país. 
Jeff, o segundo guitarrista que atuou na maior parte da primeira fase da banda, nos anos 90, deixa o Unabomber pouco após o lançamento do videoclipe oficial do single.

O ano começa agitado com o lançamento, em janeiro, do novo EP "O Mal da Máquina Morre", com inéditas e trazendo os singles “Silêncio” e “Pesadelo”.  O EP contou com participações especiais na faixa "Guanabara", com Guilherme Salgueiro nos tamborins e Celo Oliveira, guitarra. Inspirada na situação caótica do estado do Rio de Janeiro, "Guanabara"  é eleita como uma das melhores músicas de 2019, no programa Heavy Pero No Mucho, da Rádio 89 FM São Paulo.
O EP inaugura a primeira parceria fora da banda, com o artista baiano Ayam Ubräis Barco, autor da letra de poesia política “A Celebração da Peleja entre o Molotov e a Máquina", onde o Molotov e a Máquina são metáforas em que um é a consciência e o outro o sistema.

O ano de 2019 também marca o retorno da banda aos palcos de diversas cidades paulistas, com destaque para uma série de shows junto ao Coletivo Bloco Almada e uma grande apresentação dividindo o palco com os capixabas do Dead Fish e outras atrações, em Diadema/SP.

Com a pandemia a banda deu um tempo dos palcos, mas seguiu lançando singles nos streamings de música. Em abril, mais uma parceria, desta vez com a rapper paulistana Flor MC no single “João 8:32”. A letra, cuja segunda parte ficou a cargo da caneta e voz da MC, faz uma reflexão sobre o fenômeno das fake News e sua influência no atual cenário político do Brasil. Musicalmente, a faixa remete à trilha de "Judgment Night" (USA, 1993). 

O terceiro single do ano foi “Maciota”, que abre espaço no repertório para uma abordagem sonora mais tranquila e com tema de relacionamento interpessoal. 

Entre um single e outro, a banda ainda encontrou espaço para participar da segunda edição da Coletânea AVA, um interessante projeto que reúne artistas autorais de todo o país e no qual um grava a música do outro.

O single seguinte é a segunda versão gravada pelo grupo. A escolha de “Canoa, Canoa”, lançada originalmente por Milton Nascimento no álbum Clube da Esquina 2, veio da vontade de fazer um tributo à música mineira, aos povos indígenas e ao meio ambiente. Estes dois últimos, alvos de ataques sistemáticos por parte das políticas desenvolvidas pelo próprio governo brasileiro, neste momento. Destaque para a linda capa com gravura do artista plástico Jhon Bermond, que também cedeu uma bela sequência de desenhos que serviram de base para o vídeo, sempre com a caprichada produção da videomaker Gabby Vessoni.  

O primeiro lançamento do ano de 2021 é o single “SpaceShit”, retomando a discussão sobre a revolução técnico-científico-informacional e a globalização e relacionando a isso o problema do lixo espacial que orbita sobre as nossas cabeças.

Na sequência veio “O Carro de Jagrená”, uma canção-metáfora para um rolo compressor de destruição que se tornou sinônimo de Brasília, parceria com o brother Peu de Souza da banda Velho Oeste.

2022 trouxe à letra furiosa de “Carrossel”. Embora o título possa parecer otimista, a canção faz uma provocante reflexão sobre o ciclo de mortes, descaso e desilusão do Brasil nos últimos anos, em especial em meio a uma pandemia.

Pra fechar o ano com um tom de esperança o novo single chamado "O Amor Segundo Leminski" musicou poemas do poeta que tratam do amor.

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